sexta-feira, 22 de abril de 2011

Um ladrão Diferente

Não sei quais foram os caminhos que me trouxeram aqui, mas sei que vão desculpar-me por estar agindo assim. Pois tomei esse caminho mais como uma imposição, de um sentimento que teme viver sempre em solidão. Só roubaria o que os outros nunca pensaram em roubar, eu sei que isso é uma coisa bem difícil de explicar, mas quem sabe compreendas depois que te contar. Do bebê, eu roubaria, das mãozinhas a aflição e o bonito sorriso da primeira dentição. E quando crescesse e fosse para a escola, eu roubaria o nervoso de quando tira cola. De minha mãe roubaria, além de sua afeição, uma cadeira cativa dentro de seu coração. Do padre, eu só roubaria a hóstia consagrada, para perdoar os pecados das coisas que fiz erradas. Da polícia eu roubo a lei, pra perdoar meus pecados. Do juiz roubo o martelo, para não ser condenado. Do bombeiro eu roubo o fogo que ele apagou e toda a água que no incêndio jogou. De Deus roubarei o céu, para quando meu dia chegar, e ainda roubo as lágrimas de quem for lá me velar. E quem levar-me coroa, eu vou roubar sua sorte e ainda peço a Deus para abreviar sua morte. De mim mesmo, eu roubarei toda esta inspiração, que me deu essa idéia de tornar-me um ladrão. E de você que roubei toda esta atenção, dou-lhe os frutos do roubo que tenho no coração, e aceito qualquer castigo se me deres seu perdão.



Esterlito José
1934-2011

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